Eu andava pelo corredor extenso, infinito praticamente. O ar era denso, o chão era frio, o silêncio torturante... O medo, sufocante. As paredes eram feitas de pedra bruta, uma cripta autêntica. A caminho do segredo da minha alma, me desprendi do corpo. Estava perdida dentro de mim mesma.
As paredes pareciam que iam desabar sobre mim, mas creio eu que não iam. Andava, com passos compassados e lentos, que aceleravam cada vez mais. Estava frio. Eu estava apenas com um vestido verde da idade média, como as bruxas daquela época usavam. Eu era uma bruxa, e não era a toa que eu estava assim. Estava com uma capa preta, pés descalços, cabelos soltos. Tinha uma chave no peito, em forma de um colar. Andei... O corredor acabou em uma porta de madeira, com desenhos entalhados nela. Era um pentagrama, e não, não era invertido.
Puxei a chave do pescoço, e encaixei na fechadura. Girei-a e abri. Empurrei a porta com a mão. As fechaduras estavam velhas e gastas, mas ainda eram boas. Encarei mais um corredor. Deuses! Parecia não ter fim.
Fui andando mais e mais. Um vento gelado veio até mim. Girei o corpo, jogando os cabelos para o lado e então vi um espectro, um protetor que tinha na minha alma. Eu o olhei, e nos encaramos por um breve momento. Ele voltou-se para o seu caminho e prosseguiu, e eu, fiz o mesmo.
Saí andando, encarando o corredor, como se cada passo, pudesse ser o último. Os corredores ficavam mais abafados, o ar mais denso, a respiração mais sufocante, com o ar quente queimando em meus pulmões.
Andei mais fundo. O abismo entre minha alma e meu corpo, parecia aumentar. Eu sentia não me importar com isso, prosseguia sem exitar.
Enxerguei uma porta, e tinha certeza que esse era meu destino. Vi uma Triqueira entalhada na porta, e envolta vários desenhos e algumas palavras em Latim, como: Occulta ou Soul.
(Occulta: Segredo. Soul: Alma.)
Eu fui até ela, e com um pouco de receio, abri a porta. Empurrei-a com a ponta dos dedos, com as unhas resvalando nela. A porta protestou com um rangido e se abriu.
Eu vi a minha cripta. Havia um altar bem no meio dela, com um pentagrama no meio e várias velas brancas em volta. Tinham caldeirões ali, para trazer e afastar o que eu desejasse e vários outros objetos mágicos, que eu tenho no plano físico.
Havia várias e várias estantes de livros bem antigos. Tinha uma lareira, mas nela só haviam brasas. Em um dos cantos, havia um espelho negro, do qual eu usava no plano físico, para ter visões.
Andei até ele e estendi a mão. Comecei a citar o feitiço das visões.
_Mirror lunae, mirror glass,videam quid. Remove velum coram me. Id volo, sic.
Comecei a ter visões, que me perdoe leitor, não posso contar. São secretas, assim como todos os segredos de nossas almas.
Permaneci na cripta, até a hora em que um espectro entrou nela. Ele estendeu sua mão cadavérica para mim. O seu véu negro e rasgado o cobria. Peguei em sua mão e ele acompanhou-me por todos os corredores. Assim que chegamos, tocou minha cabeça e eu despertei.
Eu estava tonta, mas feliz. Mais um segredo revelado a mim...