quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Amante de uma noite - Part 1

Meu nome? Noemiah Spring. O que eu faço? Trabalho em um posto de gasolina de esquina. Fico na loja de conveniências 24h. Hoje, meu expediente estava quase acabando. Era um dia pacato, com pouco movimento. Era estranho isso. Ali costumava ter muito movimento, principalmente nestas horas.
 Meu horário estava quase acabando e eu queria muito dormir, pois tinha cursinho amanhã. Eu tinha 17 anos e estava cursando o último ano do ensino médio. Mas, para ajudar minha família, eu trabalhava no postinho. Minha mãe era professora de artes plásticas em uma escola que ficava no centro da cidade. Tinham poucas pessoas no posto. Estávamos apenas eu, Henry, Armand e Hayley.
 Ninguém falava muito comigo, porque eu era muito quieta. Não havia nada que eu gostasse mais, do que escrever meus poemas, ouvir minhas músicas, estudar história e ler meus livros. Para mim, a melhor opção, era ler meus livros acompanhados de uma boa xícara de chá ou a harmonia mais perfeita do silêncio. Não era o tipo de pessoa que amava com facilidade, por que... Eu era uma assassina emocional. Eu matava as coisas dentro de mim. Pessoas que eu não podia amar, ou coisas que eu jamais poderia ter. Eu era uma cretinazinha perfeita, por que quando eu realmente amava... Se a pessoa que eu amasse dissesse que me amava, eu acreditava. Afinal, pessoas cretinas acreditam em tudo que escutam.
 Minha vida... Bom, não era lá o que eu haveria de ter pedido a Deus, mas era uma vida boa. Tinha meu quarto e ajudava minha mãe a cuidar do meu irmão Toddy. Ele tinha apenas nove anos de idade, porém, já era bem contestador para sua idade. Eu era contestadora e uma estudiosa sobre vários assuntos. Mas, acho que isso só me tornava uma pessoa ainda mais... Chata, quem sabe.
 Um carro preto chegou e encostou bem na frente da loja de conveniências. Um garoto de apenas 20 anos de idade chegou e entro na loja, enquanto isso, eu estava imóvel, encostada no balcão, com o tédio explicito em meu rosto.
_Pode ir, Nora. – Disse ele, colocando o avental.
_Valeu. – Disse eu, tirando o meu e guardando na bolsa, sem sequer dobrar. – Boa noite e bom trabalho.
 Saí da loja, e ouvi o sininho da porta tilintar. Quando a fechei, ouvi o mesmo barulho do sininho. E fui embora. Ninguém pareceu perceber que eu estava indo, e como sempre, fiquei feliz por isso.
 Andando e andando, eu via o caminho que pelo qual eu ia. Eu andava tranquilamente, e olhava as casas que por ali tinham. Todos já deviam estar dormindo ou se preparando para dormir. Chegando a parte da estação de metrô, eu olhei no relógio. Estava quase na hora. Desci as escadas rapidamente, e as terminei com um pulinho. Meiguice? Não. Preguiça mesmo. Estava quase me arrastando.
 Passei o cartão, em uma máquina, e passei pela catraca. Andei um pouco, e sentei em um banco. Eu mal sentia o vento que vinha do túnel. Ele estava para chegar... Ele sempre vinha no mesmo horário. Sim, eu podia ser uma assassina emocional, mas ainda estava tentando matá-lo dentro de mim. Fácil? Negativo. Estava sendo altamente difícil para mim.
 Dois minutos...
 Os ponteiros do relógio teimavam em se mexer vagarosamente. Só havia visto no metrô. Não sabia seu nome, nem sua idade e muito menos de onde vinha. Mas seu olhar, encontrava o meu coração como flechas. Flechas certeiras.
 Ele tinha olhos perfeitos. Eram azuis meio prateados. Nunca havia visto olhos tão cativantes como aquele. A pele era branca. Tão branca quanto às folhas nas quais eu diferia golpes com a caneta. Golpes curvados, retos, algumas vezes, até ilegíveis. Seu corpo era robusto. Ombros largos, rosto meio quadrado, com alguns traços finos.
 Parecia um desenho feito por Da Vinci.
 Seus cabelos eram tão negros quanto à noite que pairava sob nossas cabeças quando escurecia. Não havia estrelas naquele céu. Mas e daí? Mas nada se comparava a beleza daquele olhar. Nem o sol, nem as nuvens, nem as estrelas e muito menos a lua, eram tão belas quanto aquele olhar. Ah! Sim. Mas claro, eu não sei como ele ainda podia olhar para mim. Eu era como o nada. O nada reduzido umas duas vezes. Ou seja, nem sequer havia sobrado o pó.
 Meus cabelos eram negros. Do jeito que nasceram assim permaneceram.  Meus olhos eram simplesmente castanhos meio dourados. Nada muito... Como posso dizer... Anormal. A pele, branquinha. Uma italiana completa, digamos assim. Meus traços corporais, não metiam sobre a minha descendência.
 De repente, quando olho uma sombra... Uma silhueta masculina, meio aquelas malditas luzes fluorescentes. Uma delas, até anunciava que ia estragar. Mas fazer o que? Ninguém estava nem aí para isso.
 E então, das sombras, apareceu àquela figura magnífica, da qual, eu não sabia sequer o nome. Ele andava de uma forma, da qual, ele parecia deslizar. Sua graciosidade me fascinava. Mas... Não entendia o porquê de eu ainda não ter conseguido matá-lo dentro de mim.
 Não sei por que cargas d’água, ele vinha em minha direção. Deslizava em passos leves, e sem erro. Velozes como um possante. Ele vinha e meu coração palpitava. Meu rosto ardia, volta em fogo de vergonha. Comovente... Eu, Noemiah Spring, mais uma boba apaixonada. Que coisa mais ridícula.
 Ele sentou-se ao meu lado, e junto consigo, trouxe um aroma doce... Amoras, rosas, quem sabe lírios. Muito leve para ser percebido. Porém, um cheiro de morte parecia enlaçá-lo. Mas, era um cheiro bom. E que me fez – discretamente – sentir aquele perfume com mais vontade. Meu coração deixou de palpitar para começar a arder. Meu rosto deixava aparente minha vergonha. Abracei minhas pernas e fiquei em silêncio.
_Olá. – Ele abriu um lindo sorriso.
_Oi. – Respondi baixinho.
_Qual seu nome? – Ele tentou puxar assunto.
_Noemiah. – Respondi. Coloquei o indicador na boca, em um ato infantil e tímido.
_Eu sou Dareck. – Disse ele.
 Dareck. Então este era seu nome... Dareck. Não ia esquecer. Bom, pelo menos não tão fácil. Acho eu...
 O silêncio perdurou, e então ele se contorcia no banco. Olhava de um lado para o outro. Ele era belo. Muito belo. Mas, com certeza, eu poderia ser mais uma moça, pela qual ele queria puxar conversa. Por falta de gente interessante, qualquer um serve. O metrô talvez chegasse dali uns dez minutos. Eu não estava com pressa, porém, estava muito envergonhada e adoraria ser um bichinho bem pequenininho e me esconder em algum buraquinho que por ali havia.
_Você é quieta assim o tempo todo?!  - Disse ele, quebrando o silêncio.
_Bom... Acho que sim. – Nunca havia parado para perceber se eu era ou não.
_Fale sobre alguma coisa. – Disse ele.
_Tipo o que? – Retruquei. – Não tenho nada para falar.
_Fale sobre nada.
_Como assim, sobre nada? – Meu Deus, que desespero para puxar assunto.
_Ou... Pode falar o porquê de querer me ver todas as noites. – Disse ele.
 Fiquei mais corada do que já estava, e senti minha respiração trancar completamente. Mordi o lábio inferior com tanta força, que senti a dor necessária para voltar a respirar.
                                                     ***
 Ele me convidara para ir tomar um café com ele, em um lugar bem distante. O lugar era pacato, porém bem convidativo. A escuridão da noite dava lugar a uma incrível lua cheia. As nuvens pareciam ser algodão encharcados de tinta.
 Eram tão belas... As estrelas eram poucas, pois as luzes artificiais não davam muita chance para que elas aparecessem. Mas enfim, era uma noite muito bonita. Dareck era um rapaz realmente interessante. Eu ainda estava tímida em relação a ele, mas... Talvez isso fosse embora o mais rápido que eu pudesse imaginar.
 Ele me contava sobre os livros que escrevia muitos deles, pareciam ter um toque e tanto de coisas sombrias. Não era bem o que se espera ouvir de um rapaz no primeiro encontro.
 Eu não sabia bem o que dizer em relação a isso. Eu me sentia verdadeiramente sem palavras, coisa realmente rara de acontecer comigo.
_Sabe o que eu acho? – Disse ele. – Que apenas dois prazeres sobraram para nós.
_Quais seriam? – Perguntei não muito ciente da resposta.
_O sexo e o assassinato.
 Estremeci com a resposta. Ele estava com a expressão realmente gentil. Não me atrevi a perguntar o porquê de ele achar isso, e não entendi bem. Mas, contudo, achei preferível fingir que não havia ouvido isso. Afinal, um garoto de 17 não era um serial-killer. Sexo... Era algo que eu podia relevar e eu sequer, podia ouvir essa palavra. Nunca entendi, mas ela me causava repulsa. Eu tomei um capuchino, mas ele, não comeu e nem bebeu nada, o que se supõe que é muito estranho. Afinal, para que uma pessoa viria a um café, se não fosse beber nem comer nada. Conversamos um bocado, e era quase meia-noite. Eu avisara minha mãe de que ia sair com um amigo, então, ela provavelmente saberia que eu chegaria tarde. Ele me convidou para uma caminhada, e então, eu aceitei. Era uma mata, logo ao lado do café. Estava à noite, e o chão já estava úmido.
 A terra era fofa, e afundava, assim que ela sentia o meu peso pairar sobre ela. Fazia marcas perfeitas da sola do meu tênis All*Star. Ele nada disse. Andamos mata adentro tranquilamente. Um passeio relativamente comum.
 Ele olhava para o céu, e chegamos perto de um lago. Ele pegou meu pescoço e me arremessou contra uma árvore. Tão rápido seu movimento, que mal tive tempo de me esquivar. Bati a cabeça contra a árvore e caí no chão, despreparada para qualquer golpe que pudesse receber em seguida.
 Eu olhei para ele, e seus olhos estavam pura prata. Uma prata-avermelhada. Ele me olhou com severidade.
_Porque logo você, haveria de ser diferente das outras. – Ele me pegou pelo pescoço de novo, e bem alto desta vez. Eu me debatia e tentava chutá-lo com os pés no ar. Minhas mãos tentavam afrouxar a dele. Mas ele era muito forte. Era uma força sob-humana.
 Ele me jogou no chão, no meio das plantas. As árvores se fechavam. Seus galhos eram tão grossos e a folhagem tão espessa, que nenhuma luz entrava ali. Nenhuma mesmo. Ali eu estava totalmente desprotegida.
_Adorei você, mas lamento. – Disse ele. – Estou com muita fome.
 Ele subiu por cima de meu corpo caído e cravou os caninos em meu pescoço. E eu, senti dor e prazer ao mesmo tempo. Senti uma forte excitação, mas mesmo assim, a dor era mais forte. Senti um grito se formar em minha garganta, porém ele tapou minha boca, e a segurou fortemente. Eu me debatia, para que ele me soltasse. Mas eu fui perdendo as forças... Até que não sentia mais nada.
 Seus caninos estavam cravados em meu pescoço, sugando meu sangue, como se eu fosse um animal.  Eu urrava, ou ao menos, tentava. Sua mão não me permitia ser ouvida. Ele bebia meu sangue. Mas como? O que ele era afinal? Um vampiro? Mas essas coisas não existiam. Mas, haveria de receber prova maior do que essa que estava bebendo meu sangue como vinho?! Uma mecha de seu cabelo negro caiu pelo meu rosto. A dor era terrível. Como se ele estivesse tentando sugar minha alma.
 Senti que meu corpo ficara muito fraco. As mãos relaxaram as pernas, paravam de se debater. Os músculos do tronco ficaram como se eu estivesse dormindo. Porém, meus olhos, estes sim ainda não haviam me deixado sem resposta. Sua resposta era embaçada.
 Ele saiu de cima de mim e se levantou. Vi sua boca cheia de sangue. Meu sangue. Ele o havia roubado de mim. Minha visão estava embaçada, mas eu ainda via sua silhueta.  Ele olhava para mim e então se agachou. Deslizou os dedos sobre meu rosto. Meu coração estava quase parando e nem sentia mais se respirava ou não.
_Tão linda e intrigante. – Disse ele. – Vá com Deus, pequeno anjo. Se é que ele existe...
 Ele satirizou, levantou-se e saiu andando.
 Eu não via mais nada. Tudo se apagou. Não sentia, não via, não respirava... Nada. Apenas um véu negro que me enlaçava. Não sentia, apenas amava.
                                                         ***
 Estava chovendo, e gotas de água me despertaram. Elas batiam levemente em meu rosto. Eu sentia o cheiro mais forte, as melhores fragrâncias na mata. Sentia-me mais forte, porém, ainda um pouco zonza.
 Mas... E-e-eu... Estava... Viva!