sexta-feira, 25 de março de 2011

Olhos vendados...

 Senti pela primeira o ar me encher verdadeiramente os pulmões. Meu corpo já estava curado, mas eu ainda sentia fundas feridas em mim. Meu orgulho, meu amor... Tudo. Sentia que me faltava alguma coisa. Eu já fui a Julie Martini, a garota que era cobiçada por tantos garotos do colegial... Não era popular, mas também não era excluída.
 Depois do acidente que me tirou meu pai e minha mãe, eu havia sido o assunto para todo o tipo de polêmica e meu ódio por receber aqueles olhares de pena me corroía. Eu era forte. A dor era imensa, mas eu podia domá-la. Eu sabia, que quando eu tudo podia, eu era uma burra que achava que enxergava tudo, mas não percebia que estava com os olhos vendados.
 No colégio, eu comecei a chorar no meio da aula de química. Sentia-me muito fraca, mas não conseguia dizer. Senti meus músculos se soltarem, um por um, me desobedecendo. Fui caindo em um abismo dentro de mim mesma.Eu comecei a ficar desesperada, mas a voz não saia.
_So.. co... rro! - Saiu tudo em imperceptíveis suspiros.
 Eu estava em desespero. Comecei a chorar.
 O ar já me faltava. Senti alguém que tinha um toque muito suave me pegar no colo. Eu me sentia destruir...
_Estou caindo! Socorro! Ajude-me! - Queria dizê-lo, mas só saiam suspiros desesperados. - Socorro! Por favor!
 Eu lutava... Mas não vencia. Queria que parasse, mas era mais forte que eu.
 Senti algo gelado sufocar meu corpo. Ele reagiu, dando um espasmo muscular, que me fez curvar o corpo. Eu não tinha mais controle sobre ele. Ele começou a tremer sem parar. Eu me debatia, tentando me desprender das correntes que não me deixavam livre.Senti um líquido quente sair da minha boca, e meu corpo não parava de se debater.
_Ela está vomitando sangue! Ajude! - Gritou uma voz feminina. - Chame a ambulância! Depressa!
 Eu senti meu corpo não mais pesar. Senti-me cair dentro de mim, e meu último suspiro inflou meus pulmões. Senti algo travar o ar entrar novamente... Tosse. Não! Eu não queria mais lutar contra as correntes.
 Por um momento, senti tudo se esvair. Meu mundo desmoronou. Foi como se você deixasse um coração de cristal cair. Assim que ele toca o chão, ele se esmigalha. Dizimada, ferida e assustada... Senti um negro profundo me enlaçar. Nunca tinha sentido aquela tranquilidade. Paz finalmente...
 Parece que tudo aquilo que eu amei um dia, queimou-se, virou cinzas  renasceu da forma mais pura.
 Adeus para tudo aquilo que deixei para trás.

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