quinta-feira, 3 de março de 2011

Escritora juvenil (Conto dedicado a Caroline Milena)

Entre poemas, e declarações, eis um dia de adolescente que sabe o que é amar.
                                                                              ***
“Agarro a caneta,
Como se ela fosse tudo naquele momento tão solene.
Como se houvesse vida a ser preservada.
Como se sem ela, eu perdesse o segundo, o minuto, à hora, o dia, as semanas, os meses, os anos... A vida.”

  Mais um dia se passa, eu aqui... Quieta, parada. Olhando as gotas da chuva batendo contra a minha janela. E se o vidro não estivesse ali, diria que meu rosto seria um alvo para elas. Quem sou eu? Ops... Desculpe à má-educação. Sou Molly. Tenho 17 anos... Moro em uma cidade chamada Seattle.
Bom... Sou alvo de chacotas no meu colégio, por viver com o livro nas mãos e cadernos empilhados nos braços sob a pressão do peito, para não cair pelo chão. Adoro escrever, mas nunca soube o por que. Sinto que quando não escrevo, deixo de viver.
 Neste momento, estou na minha escrivaninha... Escrevendo mais e mais versos... Não há nada muito além de palavras para as outras pessoas. Mas as que sabem ver o que é sentimento, as bem que em todos os desenhos de símbolos, as letras, a uma garota cuja vida não é um mar de rosas.
 Eu sou assim. A alma no silêncio, o coração afundado em idiotices adolescentes, a mente cheia de números e letras, cujas páginas da vida, estão repletas de palavras e pensamentos.
                                                                              ***
“Sua tinta é como as pessoas.
 Deixa-me escrever o que penso, e deixa marcas por onde passa.

Tem dias que vejo a vida,
Sem causa de dor ou espanto.

_Você tem características marcantes, minha amiga. – Disse minha melhor amiga Bree, fazendo uma cara engraçada, elogiando meu texto recém-escrito na aula filosofia.
_Obrigada. Mas... Eu só escrevi o que eu senti. – Respondi.
_Ficou sabendo? – Disse ela, reprimindo um sorriso.
_Do que? – Perguntei.
_Do Ping. – Respondeu ela. – Ele passou no vestibular. Ele fez a maior sacanagem na redação.
_Sério? Que bom. Mas... Como assim? “Sacanagem”? – Fiquei confusa.
_É. Assim... Na redação pedia para narrar um imigrante chinês que acaba de chegar aos EUA. Sabe o que ele fez?
_O que? – Escreveu o texto, dãã!
_Escreveu o texto todo em chinês. – Ela desabou a rir...
_O que? Está falando sério? – Comecei a me revirar na carteira para que ela me respondesse alguma coisa.
 Sinceramente... Não sei por quê... Não me surpreendi.
 De repente, vi uma mão chegando perto da minha mesa, e quando olhei de novo, a folha onde estava meu texto, estava em uma mão feminina. Clayre! Ghaaaa! Que ódio desta porca anoréxica.
_Que meigo! O que tem contra o “politicamente-correto”? – Disse ela, fazendo um biquinho com aqueles lábios gosmentos de gloss. – Sou politicamente-correta. Por isso sou perfeita.
_Este é seu defeito, Clayre. – Respondi. – Você é perfeita. Pessoas perfeitas são imperfeitas por não fazem nada para melhorarem. Não tem nada a acrescentar além de ações incoerentes de revistas de moda e respostinhas politicamente-corretas que não fazem da nossa sociedade um lugar melhor para se viver.
_Acabou o discurso? – Disse ela, com aquele ar ridículo de deboche.
_Se eu precisasse discursar mesmo, não te chamaria como platéia e sim, pessoas com conteúdo. Ridícula!
_Como é?! – Ela disse, pegando-me pela gola da blusa.
_Isso mesmo que você ouviu. Você tem dois segundos para me largar... Caso contrário, essa sua carinha de Léia T, vai ficar igual a de um zumbi sendo devorado por vermes. Aliás, você é um verme...
 Senti-me, naquele momento, um desprazer de viver. As pessoas hoje estão desprovidas de todo e qualquer amor ao próximo. Não quero acabar com os meus defeitos, pois não sei qual deles segura a estrutura da minha personalidade. Mas... A única resposta que eu vejo agora é: Precisamos de um lugar melhor para viver.
Não entendo o porquê, mas isso não mais me surpreende e muito pouco espanta.
                                                                        ***
“Escondo-me nas palavras, onde é um mundo sem julgamentos,
onde só é válida, a minha reles opinião.

E escrevo-te...
Tenho medo dos seus sonhos, mas quero-os para mim.
E os sentimentos?!
Os seus, parecem não ser nada além de emoções de plástico,
de uma pessoa inventada, em uma folha de papel.

E estas lágrimas... Que ridículo!
São apenas gotas de sentimentos que você não sentiu.

Mas que droga!
E o meu coração,
Gostaria que ele não batesse por ti.”

Robert... Aquele anjo tão carnal... Que droga. Virei-me para fitar meu armário, mas sem querer olhei-o de novo, conversando com os amigos, provavelmente exibindo-se por ter conquistado outra garota muito bonita. Esse era seu passatempo preferido.
Parecia o Ken da Barbie. Tinha emoções, ações e reações tão artificiais como plástico. Um cidadão de papel manipulado pela moda adolescente atual. Que ridículo!
 De repente, vi-o baixar a cabeça e seus olhos se enxerem d’água... Dizem que as lágrimas são a fonte mais pura de sentimentos das nossas almas. Parecia que ele sentia tudo e ao mesmo tempo, nada.
 Quando eu chorava, começava por uma razão e terminava por mil e uma... Não sei o porquê. Ele bateu a porta do armário e saiu com passos rápidos e ágeis. Por instinto, fechei o meu e saí em disparada atrás dele. Ele andava rápido e então tive que dar uma corridinha para acompanhar seu ritmo. Ele abriu uma das portas do colégio e atravesso-as... Em quase extremo silêncio, fiz o mesmo. Assim que senti a brisa congelante de inverno, estremeci. Continuei...
 Ele ficou de baixo de uma escada. Ali tinha um lugar pequeno que poucos sabiam onde ficava. Era um refúgio para quando precisávamos chorar. As pessoas nunca me viam chorar, e então eu ficava quieta ali. Ele foi até ali, sentou-se quase se jogando. Pude ver o modo que suas mãos tremiam ao secar as lágrimas tão amarguradas... Não sei se tinham sentimentos.
 Fui até ele, e ele me olhou com espanto.
_Quem é você? – Disse ele, encarando-me, tentando esconder o rosto vermelho de choro.
_Molly. – Respondi, aproximando-me dele. – O que houve Robert?
_Ah! Não é nada... – Disse ele. – É só... Opa. De onde você me conhece?
_Você ficava me ridicularizando até o 11º ano. – Fiz uma cara de quem não queria ter dito aquilo.
_Oh... Perdoe-me.
_Diga-me o que houve...
_Jura ficar só entre nós?
_Sim. – Assenti.
 E então ele começou a falar...
                                                                              ***
“Guardo nas linhas os segredos,
Vestindo a folha despida.
Posso ouvir o barulho da caneta deslizando no papel...
Agora aqui... Jazem minhas palavras, de mais um dia em que vi minha vida passar...
Mas desta vez, gravando o que um dia eu senti.”

Eu e Robert havíamos começado a andarmos juntos... Isso parecia estranho, pois ele era cobiçado por muitas e eu era apenas mais uma excluída no meio daquela massa humana de pessoas estranhas.
 Coloquei a mão no bolso... Meu Deus! Perdi o poema. Ninguém podia ler aquilo... Não... Ai meu Deus! E se chegasse às mãos de Robert. Não queria nem pensar.
 Comecei a revirar meu bolso e nada. Ele pareceu perceber...
_Está procurando isto? – Ele estava com a folha na mão.
 Era a mesma folha do meu fichário do “Pequeno príncipe”, a minha caligrafia, minhas palavras, meus pensamentos...
 Arregalei os olhos, e senti minhas bochechas queimarem e meu coração acelerar. As mãos tremiam sem parar, e o frio a deixava com uma cor sem vida. Senti o sangue correr mais rápido do que o atleta mais rápido do muito. Senti a pressão subir, e o ar do pulmão fugir...

“Perdoe-me te amar sem permissão,
mas a culpa é tua, porque roubaste meu coração.
 Este amor que em mim habita,
amor sem limites que clama pelo seu corpo junto ao meu,
que reclama da tua ausência.
Para ti, imperceptível...
Para nós que sentimos sensível e tímido.
Sinto-me frágil... Amo-te sem saber o por que.
Pecado meu que vai além da carne,
um talento inato que profana meu sangue,
domina meu ser,
deixa em brasa meu coração e alegra minha alma.
De teus olhos, tua boca, teu eu...
Quero seus sonhos, seus mistérios... Quero-o.”

Ele aproximou-se, segurou-me com força pelos ombros, e puxou-me para si. Um doce sabor se apoderou de mim...

 Foi isso que um dia eu senti...

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