A noite estava muito mais fria que a anterior. A pequena Angeliquie ainda estava completamente assustada, pois, nunca vira algo tão assustador em sua vida. O choque que levara, foi como... Não há uma explicação lógica.
Ela estava no porão secreto de sua casa, para se proteger de todo e qualquer ataque dos Alemães.
Aquilo realmente a atormentava. A cada barulho que ela ouvia, seu corpo reagia. Ela se encolhia, até parecer um bichinho indefeso. Seu pai nem se quer percebeu o ferimento na nuca de Angeliquie e ela ficava um pouco revoltada com a despreocupação do pai sob a menina. Porém, nada fazia. Deixava-o viver. Ela não suportava quando ele chegava bêbado em sua casa, falando bobagens e por vezes, a agredia. Ela chorava.
_ “Esse não é papai. Ele é um homem bom!” – Pensava ela, todas as vezes que isso acontecia.
Mas... Ela não sabia se estava mentindo para ela. Sim, ela estava. Ela sempre percebia isso, mas tentar se enganar era a melhor forma para poder se sentir melhor. Existiria um mundo melhor para ela, se não seu conto de fadas de mentira?!
Uma bomba estourou muito perto. Seu pai e as duas empregadas, Margareth e Clarence, despertaram em um pulo. A menina entrou em pânico, mas não demonstrou para que seu pai não se irritasse com ela. Margareth e Clarence recolheram várias coisas, enquanto o pai de Angeliquie empurrava uma estante, que era o que selava um tipo de saída secreta para os dutos de fuga subterrâneos.
Margareth pegou a mão de Angeliquie, o pai pegou o castiçal, enquanto Clarence abria caminho com uma vassoura, meio a tantas teias de aranha. Foram correndo. O vento era abafado e asqueroso. Cheiro de esgoto. Que nojo! Isso revirou o estômago das três.
Eles andaram, horas corriam. E a miúda Angeliquie cada vez mais abalada. Ela não sabia o que dizer e o nervosismo de seu pai não adiantava de nada. A cada grito que ele dava com ela, mais assustada e irritada ela ficava. Acharam uma câmara subterrânea, onde várias pessoas se escondiam. Ótimo!
Haviam muitas pessoas, muitas feridas, outras mais abaladas que a própria Angeliquie. Ela abraçou Margareth com tanta força, que pode sentir quando ela realmente ficou preocupada. Ela temia pela frágil menina, mas o que poderia ela fazer?!
_Vou mandá-la a Itália, fille. – Disse o pai de Angeliquie. – Depois da Itália, irá para Madri. Lá estará a salvo.
(Fille: Filha)
(Fille: Filha)
_Não quero ir! Eu não vou! – Disse Angeliquie, revoltada.
_Ah, sim, fillete. – Disse ele. – Você vai.
(Fillete: Moçinha.)
(Fillete: Moçinha.)
_NÃO VOU! – Gritou Angeliquie.
Seu pai pegou seus longos cabelos e puxou-os. Angeliquie ficou morta de ódio e deu-lhe um soco certeiro no rosto de seu pai. Ele quis partir para cima da menina, mas Margareth entrou na frente.
_Pare, por favor, monsieur. – Disse Margareth. – Ela é só uma criança.
_Não, não sou mais criança! – Disse Angeliquie, tirando Margareth da frente, com delicadeza. - Quer me mandar para longe, mande, mas lembre-se de que você não será mais nada para mim.
***
A guerra estava prestes a terminar, e então, Angeliquie já com 17 anos de idade voltou à França. Seu pai havia adoecido e estava à beira da morte. Mas antes que desse seu último suspiro queria ver a filha que ele tanto maltratou, mas que tanto amava. Ao menos, pela última vez. Iria deixar todas as suas posses para ela, pois não tinha mais alguém em quem confiasse o suficiente para isso. Apesar de ser menor de idade, sua tia Marie estava cuidando da jovem e deixaria tudo em perfeita ordem para quando Angeliquie assumisse.
_Sweet fille, vamos logo. O carro nos espera vamos little gem. – Disse a tia de Angeliquie.
(Sweet fille: Menina doce. Little gem: Pequena Jóia.)
(Sweet fille: Menina doce. Little gem: Pequena Jóia.)
_Oui, Tante Marie. – Ela pegou suas malas e foi.
(Tante: Tia ou Titia.)
(Tante: Tia ou Titia.)
Iria rever a antiga casa.
Continua
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