sábado, 23 de abril de 2011

O que se pode acontecer em um mês? (Dedicado a Maria Helena Martins)

1º dia:
 Mais um dia entediante. Hoje, fiquei sabendo que eu e minha família vamos voltar para Tokyo. Não sei se era bom... Para mim não fazia mais diferença. Não me relacionava com mais ninguém.
 Eu estava a um ano morando em Phoenix, nos EUA. Sinceramente? Não me identificava com ninguém aqui. Realmente... Não sei o que era pior. Aqui ou lá.
_Aimi! – Ouvi alguém me chamar.
 Virei-me instintivamente, com um tanto de indiferença. Não gostava nem de olhar nos olhos das pessoas, mas reconheci aquela voz. Wade-san.
_Wade-san... – Fui receptiva o seu chamado. – Pois não?
_Aimi... Não está mais no Japão. É só Wade. – Disse ele. Odiava quando falavam isso. – Você ainda está com a tarefa de física, ok?
_Tá bem. – Virei-me de costas e saí andando.
 O vento bateu, levando meus cabelos para frente. Junto consigo, ele trouxe o cheiro de Wade até mim. Parei, e fiquei quietinha... Não sei se ele estava atrás de mim ainda, então retomei o caminhar, com passos mais acelerados.
 Por mais que eu gostasse de ficar sozinha e isso... Eu era apaixonada por Wade. Podia ser uma coisa ridícula, mas... Ridículo mesmo era eu estar apaixonada por aquele grosso que menosprezava minha cultura oriental. Hunft!
 Não gostava de ter ninguém por perto, pois a presença das pessoas me incomodava. Não queria ninguém me controlando e me dizendo como agir. Eu não era mais uma criança de colo e eu era bem mais adulta do que estes idiotas com quem eu era obrigada a conviver. As aulas já haviam se encerrado e eu procurava o rumo de casa. Meus pais já haviam acertado minha transferência. Só mais um mês para eu ir embora...
                                                                          ***
 Enquanto eu encarava as ruas de Phoenix, resolvi dar uma passada nas livrarias, para ver se achava algo que me interessasse. Suspirei e encarei as portas da livraria e passei despercebida por aqueles magníficos estranhos. Isso era bom! Isso era muito bom!
 Encarei as prateleiras, deslizando meu dedo indicador sobre os livros para ver se um título me agradava. Primeiro, fui pelas sessões.
_Romance, não... Infanto-juvenil, não... Infantil, não... Suspense, não...       Eróticos, não... Hm... Terror... Terror... Achei! – Eu tinha uma infeliz mania de ir sussurrando o que eu queria.
 Encontrei um livro que me parecia interessante, e li o prólogo. Interessei-me e resolvi comprar. Custaram-me cinquenta e cinco euros. O vendedor ficou me fitando, tentando ver se eu olhava nos olhos dele. Isso me incomodava, e muito.
 Quando estava saindo das livrarias, deparei-me com uma cena horrível. Quando olhei para a rua, vi uma moto girando no ar, porque acabara de bater em um carro. Parecia que tudo acontecia em câmera lenta. Vi a moto batendo, pendendo para o lado e depois girando no ar. O farol da frente da moto se espatifou por primeiro e depois a lataria foi ficando amassada. O rapaz que estava em cima dela, parecia se soltar suavemente dela. Assim que coligiram, tudo ficou amassado. O rapaz da moto parou de girar e acabou indo de cabeça no chão. Se não estivesse de capacete, iria lhe reder uma bela fratura craniana.  O vidro do capacete se partiu, e o corpo do rapaz estava estendido na rua. A moto se espatifou em barulhos de metal se destruindo. O motor estava ligado, até a hora em que ela atingiu o chão. A pessoa que estava no carro saiu em disparada, fugindo da responsabilidade. O carro era branco, e ficou com a frente toda despedaçada. Ele engatou e saiu velozmente, cantando pneu.
 Em uma reação de quase choque, fiquei paralisada. Mas logo retomei a postura e sai correndo para socorrer o rapaz da moto. Atravessei a rua rapidamente, e ela estava quase deserta.
 Cheguei perto do corpo dele, e pude ouvir seu gemido. Eu delicadamente coloquei sua cabeça deitada nas minhas coxas, e tirei o capacete da cabeça bem devagarzinho. Surpresa!
_A-a-aimi... É vo-você? – Balbuciou ele com dificuldade.
 Não respondi e comecei a berrar por ajuda. Eu nem gritava. Eu berrava. As pessoas começaram a chegar, e em alguns minutos, a ambulância, com aquele barulho ensurdecedor. Odiava esse tipo de barulho, mas agora, ele era necessário. Aquela aglomeração de pessoas já tinha se formado.
 Colocaram-no naquelas macas e quando o levantaram para colocar dentro da ambulância, ele segurou minha mão com toda força que a situação lhe permitia.
_Por... Favor... Na-na-não me de-deixe... – Ele balbuciava com muita dificuldade.
 Sem pestanejar, eu subi na ambulância e sentei no canto, sem saber se estava em choque, assustada ou coisa assim. Wade sempre me ridicularizava, humilhava e tudo mais. Eu não sabia por que eu o amava e muito menos porque eu havia subido naquela ambulância com ele.
 Colocaram-no para dentro e ele pediu minha mão. Segurei a dele e fomos até o hospital.
                                                                       ***
_Moça... Moça... – Chamou uma enfermeira, me despertando de um quase cochilo. – Você não vai embora?
_Não. – Balancei a cabeça. – Quero saber como é que ele está.
_Está bem. Não foi nada muito grave. Apenas o susto e uma perna quebrada com alguns pontos na cabeça.
 Fitei-a.
_Relaxe, poderia ter sido pior. Logo o efeito do sedativo vai passar, e se quiser vê-lo, poderá ir.
_Obrigada, Senhorita... – Não conseguia ler o crachá.
_Kyle... – Ela sorriu. – Vocês são muito amigos, não é? – Ela colocou a mão nas minhas costas, e se abaixou do meu lado.
_Na verdade, não... – Respondi. – Ele só fica me ridicularizando e humilhando. Despreza minha cultura e meus ideais, mesmo assim, não ligo.
_Você está apaixonada, não é, pequena? – Disse ela.
 Fiz apenas uma carinha, e eu queria começar a chorar. Ela me abraçou e pela primeira vez desde os seis anos de idade, eu chorei na frente de alguém.
                                                                      ***
 Eu estava sentada em uma poltrona que ficava bem no canto do quarto onde Wade estava. Ele estava deitado, apagado, tomando soro na veia. Parecia indefeso da maneira como eu nunca havia visto. Parecia um garoto doce...
 Ele começou a reagir, despertando do sono. Eu corri até ele e fiquei olhando como ele reagia, até começar a me esgoelar para chamar a enfermeira.  Ele pegou minha mão e semicerrou os olhos.
_Aimi, é você? – Disse ele.
_Sim, sou eu. – Respondi em voz baixa.
_Quer dizer que aquilo tudo não foi sonho? – Ele perguntou confuso.
_Não, não foi sonho. – Baixei a cabeça ainda mais do que de costume.
 A enfermeira chegou e fiquei lá por mais algum tempo, até que ele já estivesse mais coradinho. Algum tempo depois, a família dele chegou e me olhou com certo desprezo. Eu fui me retirando de fininho da sala.
                                                                   ***
 Abri a porta de casa e minha mãe chegou perdendo as pernas até mim, aos berros, e me abraçou, quase tirando minha coluna do lugar.
_Aimi, onde estava menina?! – Disse ela, tremendo. – Você sumiu a noite toda!
_Eu sei, eu sei. – Respondi. – Um amigo meu sofreu um acidente e eu estava no hospital até agora.
_Que amigo? – Disse ela, espantada.
_Wade.
_Filho da senhora Jackens? – Perguntou.
_Esse mesmo. – Respondi.
 Silêncio.

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